Dólar alto desencorajou amadores que aproveitaram maré baixa do mercado Imobiliário. E os investimentos migraram de Miami para cidades que estão crescendo como Atlanta, na Georgia, e Boca Raton, na Flórida

A alta do dólar,  de 60% nos últimos 12 meses, abalou o ânimo de parte de brasileiros antes seduzidos pelos preços de imóveis nos Estados Unidos. Mas investidores profissionais vislumbram lucro com retorno maior de aluguéis na moeda norte-americana. E mantém, por isso, o interesse na compra.

“O comprador-turista, que não é investidor profissional, deixou de comprar nos Estados Unidos, por ter perdido poder de compra”, diz Daniel Rosenthal, diretor da feira de investimentos em imóveis nos EUA Investir USA Expo. “O investidor está trabalhando em um dólar alto, é verdade. Mas quando houver recuperação de preços dos imóveis também será em dólar", argumenta, embora a possibilidade de alavancagem com a cotação menor fosse maior.

O objetivo do investidor-turista, explica Rosenthal, era ter uma casa para passar férias e também alugar em temporadas. Agora, a situação mudou. O interesse antes concentrado principalmente em Miami e em outras cidades turísticas foi deslocado. Investidores profissionais estão buscando cidades que estão se desenvolvendo economicamente e atraindo novos moradores. “O foco do investidor profissional é lucrar com o norte-americano, que precisa alugar casa ou um imóvel comercial para empreender”, destacou.

Retorno do investimento
O retorno médio desse tipo de investimento é estimado em 7% ao ano do valor investido, o que permite, em 15 anos, em muitos casos, zerar o valor investido e começar a ganhar dinheiro. Entre as cidades mais procuradas hoje estão Atlanta, na Georgia, Boca Raton, Fort Lauderdale e Tampa, na Flórida. Todas em forte expansão econômica.

Pedro Barrreto, presidente da Ativore Global Investments, especializada em investimentos imobiliários no exterior, lembra o interesse no mercado dos EUA também como consequência da alta de preços dos imóveis brasileiros.

“O mercado imobiliário no Brasil, há alguns anos, rendia anualmente entre 10% e 12% do investimento. Hoje, está entre 3% e 3,5%”, segundo ele. “A percepção do investidor é que o Brasil não está valendo a pena nessa área”, prosseguiu.

Barreto avaliou ainda que a percepção de risco no Brasil hoje dificulta o investimento imobiliário local. “A crise política e econômica e a falta de perspectivas levam o investidor com dinheiro a procurar mais estabilidade”. Fora isso, muitos investidores buscam diversificar sua carteira investindo em imóveis no exterior.

É o caso do investidor carioca Fernando Lima. Desde 2013, ele compra imóveis nos Estados Unidos e já acumula três casas e cotas de dois “street shoppings”, uma espécie de conjunto de lojas aberto, nos moldes de shoppings centers.

Ele conta que a ideia surgiu em um almoço com amigos, que também buscavam diversificação da carteira de investimentos, e um deles sugeriu investir em imóveis nos EUA. “Nunca tinha pensado nisso, mas quando ele mencionou que o lucro líquido, após todas as taxas, era de 7% a 8% do valor investido por ano, me interessei”, relatou.

Fernando Lima começou com uma casa para "sentir" o investimento. Gostou e decidiu continuar. “A operação não é das mais simples, é importante ter boa consultoria para evitar problemas”, recomenda.

Há uma série de procedimentos envolvidos, como decidir se a compra será via pessoa física ou jurídica, a necessidade de contratação de um contador local, fazer vistorias anuais e manter os imóveis em bom estado de conservação. 

Vencidas essas dificuldades, o resto é mais fácil. Ele conta que um dos seus inquilinos deixou de pagar um mês de aluguel e, em 15 dias estava fora da casa. “Diferente do Brasil, hein?!”, comparou, lembrando que no Brasil a legislação é mais favorável aos inquilinos nesses casos. “O ambiente de negócios norte-americano é outro ponto positivo para investir em imóveis por lá”, afirma.

Imóveis de menor valor
Mesmo com o interesse de investidores profissionais, o valor médio aplicado por brasileiros ao comprar imóveis nos EUA caiu no último ano. Se há dois anos, o valor médio do imóvel comprado era de US$ 450 mil, hoje, caiu para US$ 250 mil.

Daniel Rosenthal destaca que essa queda não é somente em consequência da crise cambial, mas também sintoma da mudança no perfil dos investimentos. “Comprar em Miami custa mais caro do que em Atlanta, por exemplo”, afirmou.

Segundo dados do NAR (Associação Nacional de Corretores dos Estados Unidos, na sigla em inglês), 8% de todos os imóveis vendidos no ano passado nos EUA foram para latino-americanos, o que representou total de US$ 104 bilhões, em torno de R$ 400 bilhões. A associação não faz recorte por países.

Riscos
Investir no exterior é arriscado para quem não está acostumado a essa prática. Questões tributárias, especialmente, podem se tornar verdadeiros tormentos para quem investiu e não computou os gastos de manutenção do imóvel e da sua contabilidade.

“Ao investir internacionalmente, tem que se tomar cuidado com as questões fiscal e patrimonial, a dupla tributação e a sucessão”, destaca Barreto. Dessa forma, o conselho que ele dá a quem, apesar da alta do dólar, pretende investir nos Estados Unidos, é buscar uma consultoria completa nessa área para evitar riscos que podem custar mais caro para serem resolvidos depois, do que a prestação desse serviço.

Fonte: Fato Online